Livraria Cultura e o Jeito Censura de Ser!

(Foto: Tania Meinerz)

Bom, hoje vou usar o meu blog pessoal pra falar sobre algo que aconteceu na minha vida recentemente, o meu desligamento da Livraria Cultura.

Há algum tempo (exatamente um ano e quatro meses) fui chamada para abrir a loja daqui de Curitiba como Operadora de Caixa, fiquei muito contente por se tratar da LC, uma empresa que tinha uma boa reputação e era conhecida pelo bom atendimento, o chamado ‘Jeito Cultura de Ser’.  Eu e meus colegas ficamos duas ou três semanas tendo treinamentos antes da inauguração, pois para eles não bastava atender o cliente, você tinha de encanta-lo, isso valia tanto para clientes externos como internos também. Eu me lembro da frase “na Cultura não é só o cliente que tem razão, vocês serão tão bem tratados quanto eles”, isso não durou muito né? Ajudei a carregar caixas, colocar livros nas estantes, enfrentar poeiras (e eu sofro de renite!) não nos deram nem água durante esse processo, mas ok, abrimos a loja.  A inauguração foi linda, era maravilhoso ver a satisfação dos clientes, todos estavam felizes e empolgados.

Após alguns meses de loja aberta começou o que iria se repetir até os dias de hoje: a rotatividade de funcionários devido aos baixos salários. Eu, que gostava e ainda tinha esperanças de que as coisas melhorassem, continuei mesmo com as péssimas condições de trabalho. O quadro de funcionários do caixa era de doze operadores, mas muitas vezes abríamos a loja com apenas dois ou três. O salário não passava de R$650,00. Com um ano de empresa, e após quatro meses de pedidos recorrentes (e, literalmente, ignorados) ao gerente, finalmente me passaram para o setor de vendas.

Comecei 2013 como vendedora e logo entendi as reclamações dos meus colegas sobre a comissão e o faturamento.  Na minha carteira de trabalho esta  ‘comissionada com 0,075% sobre o faturamento’, mas olha que engraçado, nunca ninguém teve acesso ao faturamento da loja e por incrível que pareça a de Curitiba nunca batia a “meta” (que era divulgada em produtos e não em valor real, logo, também não tínhamos controle sobre tal meta). Por essa razão, era impossível calcular o valor correto da comissão que era sempre muito baixa, resultando sempre no salário base de R$1.000,00 que com os descontos chegava a R$850,00.

Em abril, minha ex-colega Elisa Mousa mandou um correio interno (link aqui) endereçado ao diretor e todos os colaboradores da rede, compartilhando as reclamações frequentes dela e de todos os colegas de Curitiba, poucas horas depois, foi desligada da empresa sem maiores explicações. Não só ela, funcionários com até onze anos de empresa (de outras lojas da rede) que responderam o correio também foram demitidos. Com a saída da Elisa e os demais colaboradores o clima de censura pairou sobra a loja.  Foi criada a página Jeito Censura de Ser, um espaço onde os colaboradores poderiam compartilhar suas opiniões, mas foi a partir daí que começou realmente a censura. Quem comentava, compartilhava ou curtia qualquer coisa da página, era mandado embora, e foi assim que fui desligada da empresa, sem qualquer satisfação. Dez dias depois da minha saída, os que sobraram foram chamados para uma reunião no teatro e lá foram informados que também estavam sendo desligados da empresa.  Nesses dez dias vieram de outras cidades funcionários que concordavam com a politica da loja para dar um “auxilio” aos que tinham sobrado, mas o que aconteceu na verdade foi que eles desautorizavam os vendedores de Curitiba, inclusive na frente de clientes, e delatavam os mesmos para os gestores. Nem mesmo uma gestante foi poupada.

No dia 11 de Maio voltei na loja para comprar alguns itens reservados, e após cerca de meia hora, encontrei uma ex-colega que ao me abraçar perguntou se eu tinha notado que estava sendo seguida por um PP (nome dado aos seguranças da LC), olhei pra trás e lá estava ele. Me senti extremamente constrangida. Descobri ser um relato frequente de ex-colaboradores.  Encontrei a única caixa que havia sobrado e ela me relatou que todos que ali trabalhavam receberam uma ordem “de cima” proibindo a conversa conosco, os que foram mandados embora. Além disso, soube que fomos alvos de piadas por parte dos gestores e intercambistas (os vendedores vindos de outras lojas da rede).

Legal é que eles perderam tanta gente boa (a Cultura era conhecida por ter vendedores que conheciam o que vendiam, falavam outras línguas, possibilitando ‘encantar’ até mesmo clientes estrangeiros, etc) por se recusarem a pagar um pouco melhor, mas não pensaram duas vezes em gastar com rescisões, intercambistas em hotel, indenizações pra gestante. E com a repercussão que o assunto esta dando na internet foi possível ver que não é só em Curitiba que isso acontece.

Se vocês puderem divulgar pra que todos saibam que, apesar de linda, a Livraria Cultura que não valoriza nem mesmo aquelas pessoas que a fazem funcionar, que “encantam” os clientes e vendem cultura, de “cultura” só tem o nome.

ps: link da noticia divulgada pelo jornal da UFPR. Jornal Comunicação

(9685/JPVAIN/VENDAS – IDIOMAS/ 1425)

um agradecimento a Brunna Klauberg que me ajudou com o post.

205 thoughts on “Livraria Cultura e o Jeito Censura de Ser!

  1. Ana

    perdi tempo da minha vida trabalhando nesta empresa. pior que os donos eram alguns funcionários antigos da paulista e villa lobos que se achavam os reis da cocada preta, os intelectuais da alta roda que menosprezavam funcionarios mais novos. a sorte é que essa cambada perdeu a mamata de salário bom e foram pra rua logo depois que o itau assumiu esta “parceria”. tem uma meia dúzia de velhos ainda na paulista, que vao morrer la se achando os últimos bons funcionários, sem vida social e alegria, que tem como qualidade apenas saber onde estão alguns exemplares na prateleira.

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  2. Manuella

    Trabalhei como caixa na LC de maio de 2010 a setembro do mesmo ano.
    Nos primeiros dois, três meses, estava feliz e curtindo muito o ambiente de loja. Porém, começaram os problemas. Funcionários da nossa equipe que faltavam, chegavam atrasados, tinham um atendimento bem “básico” (muito longe do nosso “treinamento para encantar”, mas que fizeram amizade com as pessoas certas, eram privilegiados, tinham faltas abonadas e folgas fora da escala sem mais justificativas. Isso é normal no ramo privado, mas quando você se esforça para chegar no horário e fazer bem o seu trabalho, esses tipos de atitude são ultrajantes. A gota d’água, pelo menos pra mim, veio quando a Coordenação de Atendimento passou a gerenciar a equipe de caixa, ao invés do Financeiro, pois as duas coordenadoras chegaram impondo mudanças bruscas e significativas na equipe, sem ao menos consultar os funcionários que a integravam, ou mesmo observar se as rotinas de trabalho já implantadas funcionavam bem. Ao questionar esse tipo de decisão arbitrária em contraste com a tal gestão participativa, não sofri nenhuma represália imediata, e foi feita uma reunião para discutir as mudanças, porém com o tempo, percebi que o tratamento foi ficando mais áspero e mais restritivo com relação a mim. Não aguentei e pedi demissão. Alguns dias depois que saí, após cumprir aviso prévio trabalhando corretamente todos os dias, sem pedir nem um atestado sequer, qual seria a minha surpresa que toda a equipe restante foi demitida? Infelizmente, por um vacilo deles (revindicavam salários melhores, mas ameaçaram não trabalhar mais se este não sofresse aumento). Por acaso, visitei a loja no dia seguinte à esta demissão coletiva e me surpreendi também com a atitude de pessoas, que antes chegaram a me dizer “que eu trabalhava bem demais, porém que eu tinha que, mesmo tendo toda a cara da equipe de vendas, me contentar com o que tinha até completar um ano de loja”, dizendo que tinham certeza que eu faria muita falta à loja. Ainda bem que minha decisão já era nunca mais voltar como colaboradora. À época, ganhávamos na carteira de trabalho R$ 600,00, mas no fim das contas recebíamos menos de R$ 450,00 reais; ninguém chegou enganado, achando que ficaria rico no caixa, mas esse é um ponto que desmotiva muito, e pensar que de acordo com alguns relatos aqui dos comentários o salário subiu apenas R$ 50,00 em alguns anos é, no mínimo, triste. O horário também é sofrido, pois você praticamente só tem tempo de trabalhar e dormir, pra quem estuda é muito difícil conciliar.

    Acredito que a LC tem um perfil de trabalhador que se aplica a poucos hoje em dia, mas que muita gente ainda deve ser feliz lá dentro. Eu não era, e hoje sou muito mais feliz sabendo que posso dizer pro meu superior qualquer opinião que eu tenha, sem sofrer represálias, mesmo que nada mude.

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  3. Wellington

    Muito Triste msm, eu tive uma história parecida, porém um pouco pior no dia 14/12/2009 fui demitido por justa causa, pela livraria Cultura, eu éra segurança da lója, tinha um ano e meio na lója e minha filha caçula tinha apenas 2 meses de nascida imaginem pleno mês de natal fim de ano me dispençaram sem direito a nada, apenas me pagaram os dias trabalhados, isso acontecei algumas semanas depois da livraria, tentar inserir banco de horas para a equipe de segurança, tentando nos enquadrar no sindicáto do comercio que é permitido, como éramos vigilantes, a categoria por meio de convenção trabalhista não éra licita nem permitia tal mudança. e Todos os outros seguranças concordaram menos eu, busquei a convenção da categoria de vigilantes mandei por correio interno para a gestão e diretoria me negando a aceitar tal imposição afinal éra com aquelas horas extras que conseguiamos melhorar os nóssossalários, com as horas extras que trabalhavamos, depois desse correio a mudança em relação a mim foi drastica, não me chamavam pra fazer mais horas extras e quase não falavam mais comigo daí a invertar um motivo pra minha justa causa éra questão de tempo, no dia 14 de dezembro de 2009, a nóssa lider Silvia Pereira Leme me chamou na sala do Rh e me comunicou que eu estava semdo demitido por justa causa, simplesmente me disse que eu tinha falado palavrões, especificamente a palavra mérda, esse foi o motivo pra a Livraria suprimir o direito de um trabalhador ter o seu sustento e de sua familia tbm coloquei na justiça e estou a 3 anos lutando e ja ganhei a causa graças a Deus, repassem galéra pra que éssas pessoas tenho o que mereçam. Att Wellington Aparecido da Silva. Ex colaborador da Livraria Cultira Campinas-Sp

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    1. Fabiano Viana Paes

      Tb sou de Campinas e caracas…..eu entrava direto nessa livraria…..comprar mesmo acho que só uma vez que eu comprei um livro que só achei ali na hora……..não sabia que existia esse ambiente de trabalho tão nefasto pelos gestores lá……Mas olha….nunca mais eu compro um “grão” ali se quer…..isso é muita falcatrua deles…..

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    2. Wellington

      Vou postar a sentença do meu processo que prova que eles agem de má fé Vale a pena tirar um tempo pra ler éssa grande abraço e boa sorte a todos!!!
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      . VARA DO TRABALHO DE CAMPINAS
      PROCESSO: 00283-32-2010-5-15-0001
      RECLAMANTE: WELLINGTONS APARECIDO DA SILVA
      RECLAMADA: LIVRARIA CULTURA S/A
      Aos 28 de setembro de 2012, às 16h20min, na Sala de audiências
      desta Vara, foram apregoados os litigantes.
      Ausentes as partes.
      Submetido o feito a julgamento foi proferida a seguinte
      I – RELATÓRIO
      Dispensado, por se tratar de demanda sujeita ao rito
      sumaríssimo.
      Tentativas conciliatórias prejudicadas.
      É o relatório.
      DECIDO
      II – FUNDAMENTAÇÃO
      O horário de trabalho praticado pelo reclamante é
      incontroverso, havendo apenas as variações naturais de entrada e saída.
      Assim, reconhece-se que ele laborava das 14h00 às 22h30min, com uma hora
      de intervalo, inicialmente em regime de 5×1 e depois (a partir de 13/07/2008)
      em regime de 6×2. Pelo horário descrito, o reclamante laborava 7h30min por
      dia, não ultrapassando o limite diário de labor. No entanto, em ambas as
      situações, prestava serviços em seis dias da semana, de modo que sua carga
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      . VARA DO TRABALHO DE CAMPINAS
      semanal de trabalho era de 45 horas. Assim, ultrapassado o limite previsto no
      texto constitucional, tem-se como devida ao reclamante uma hora extra por
      semana, por todo seu contrato. No entanto, o exame dos demonstrativos de
      pagamento do autor revela que eram pagas horas além desse montante, de
      maneira que não se evidencia qualquer diferença a ser satisfeita. Improcede,
      portanto, o pedido de diferenças de horas extras.
      A reclamada sustentou a dispensa do reclamante por
      justa causa, em razão de ter ele proferido palavras de baixo calão no aparelho
      de radiocomunicação da empresa. Esse fato não é por ele negado, sendo certo
      que os documentos que reproduzem os diálogos não foram impugnados. O
      reclamante, em sua manifestação sobre a defesa, feita em audiência,
      confirmou que se indignou em razão da ocorrência de uma falha na rendição,
      mas negou que tivesse proferido a palavra “merda”, usada como fundamento
      para a dispensa. Bem por isso, a prova fora dispensada na audiência, e só foi
      colhida em razão da anulação da sentença. De qualquer sorte, a reclamada
      apresentou apenas uma testemunha, que sequer trabalhava na empresa na
      época dos fatos, e portanto nada poderia provar.
      Na realidade, como já pontuado anteriormente, isso
      seria completamente irrelevante. O certo é que, tendo ou não o reclamante
      proferido expressão indicada, tem-se que isso jamais poderia ser considerado
      motivo de justa causa. Os documentos juntados pela própria reclamada
      descrevem uma situação que revela que houve uma reclamação do autor a
      respeito de uma falha na rendição, o que naturalmente o deixou aborrecido.
      Logo, se ele teve alguma reação verbal, isso se insere na mais absoluta
      normalidade das atividades humanas. É da essência do ser humano que tenha
      explosões verbais em situações de desagrado, mecanismo totalmente inserido
      no processo de autodefesa que todos devem cultivar e preservar. Nesse
      contexto, as reações a situações adversas no local de trabalho, quando
      comedidas, são absolutamente naturais e toleráveis. Inviável seria reconhecerse a licitude se ele proferisse um arsenal de ofensas, realizasse agressão física
      ou verbal a seus colegas. Mas não foi o caso: a descrição do fato revela que
      ele teria, a rigor, dito apenas uma palavra considerada de “baixo calão”. Ora,
      dentro do que foi exposto, essa reação, inclusive com proferimento de
      pelavras, em tese, “indecorosas” está absolutamente consonante com a
      normalidade. Qualquer pessoa comum já se viu em situação análoga, em que
      uma circunstância adversa revolve seu subconsciente e faz emanar uma
      expressão de irresignação. Às vezes, essa expressão é, realmente, um
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      . VARA DO TRABALHO DE CAMPINAS
      palavrão. Mas nem se pode dizer que tem a finalidade ofensiva, senão apenas
      de oferecer um refluxo natural ao sentimento que navega o âmago subjetivo.
      Por outro lado, este Juízo não pode dar asas à
      hipocrisia, ao reconhecer na expressão supostamente usada (“merda”) uma
      “palavra de baixo calão”. Trata-se, realmente, de um substantivo chulo, que
      designa o conjunto de matérias fecais, mas não é propriamente um palavrão.
      É, do contrário, expressão usada de forma corriqueira em vários núcleos
      sociais. Aliás, é sabido que, nos meios teatrais, essa expressão é usada como
      proclamação de êxito: é franco costume entre atores, atrizes, diretores, etc.,
      desejarem sucesso aos seus pares em suas apresentações, usando exatamente a
      expressão “merda”. Mas não significa exatamente um “palavrão”, sendo
      apenas um termo rasteiro, até de mau gosto, como tantos outros que aparecem
      diariamente nos meios de comunicação.
      Sendo assim, não se pode desconsiderar o meio em
      que se vive nem as circunstâncias que a sociedade apresenta em suas
      manifestações. Se o reclamante realmente proferiu tal expressão, isso foi,
      como dito, resultado de uma “explosão”, absolutamente justificável e sem
      qualquer conotação de gravidade que pudesse justificar sua dispensa.
      Cabe observar que a justa causa é a principal
      penalidade do direito do trabalho, pois suprime do trabalhador a fonte
      principal de seu sustento e ainda compromete sua atividade profissional. Por
      isso, deve ser sempre bem sopesada e avaliada, merecendo ser reconhecida
      somente em situações em que é muito bem caracterizada. No caso dos autos,
      isso não acontece, tanto pela descrição já feita, como pelo fato de que, além de
      tudo, seria uma punição absolutamente desproporcional ao ato eventualmente
      praticado.
      É de se notar, ainda, que o reclamante não teve, nos
      dois anos de trabalho para a reclamada, nenhuma mácula funcional, o que,
      inclusive, desagradou os seus colegas, que manifestaram franca indignação
      com a dispensa, inclusive a supervisora do reclamante, conforme documentos
      juntados pela própria reclamada. Ora, não se pode reconhecer a justa causa se
      a situação, aos olhos dos próprios pares, que trabalhavam diretamente com o
      reclamante, a consideram excessiva e abusiva.
      Por todos esses fundamentos, afasto a justa causa
      impingida e reconheço a dispensa imotivada do reclamante. Por isso, faz jus
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      ao recebimento da indenização do aviso prévio, das férias proporcionais
      (7/12), com um terço a mais, décimo terceiro proporcional (6/12), além de
      FGTS sobre o aviso e 13º. e indenização de 40% da totalidade do Fundo..
      Não pagas as rescisórias devidas dentro do prazo
      legal, defere-se ao reclamante a multa prevista no par. 8º. do art. 477, da CLT.
      Diante do reconhecimento da dispensa imotivada,
      determina-se a liberação do FGTS ao reclamante, mediante fornecimento das
      guias correspondentes, sem o que será expedido o alvará correspondente. O
      mesmo deverá ser feito com relação ao seguro-desemprego.
      No cálculo do valor rescisório, exceto multa do art.
      477, serão computadas todas as parcelas remuneratórias constantes do
      demonstrativo de pagamento do obreiro e ainda a média de horas extras, com
      adicional, e noturnas, do último ano trabalhado.
      Não verificada a ofensa normativa, improcede o
      pedido relativo às multas.
      A correção monetária incidirá sobre os valores
      devidos, a partir da data o desligamento do reclamante. Será utilizada a
      variação pro rata da Taxa Referencial (TR) mensal desde então até o efetivo
      pagamento, salvo no caso de substituição desse fator por determinação legal.
      Sobre o capital corrigido incidirão os juros moratórios de 1% simples, a partir
      da data do ajuizamento, na forma do disposto na lei 8177/91.
      Defere-se ao reclamante os honorários assistenciais,
      fixados em 15% do valor da condenação.
      III – CONCLUSÃO
      ISTO POSTO, julgo PROCEDENTE, EM PARTE, o
      pedido formulado por WELLINGTON APARECIDO DA SILVA,
      condenando LIVRARIA CULTURA S/A. a pagar-lhe indenização do aviso
      prévio; férias proporcionais com um terço a mais;décimo terceiro salário
      proporcional; FGTS sobre o aviso prévio e 13º., indenização de 40% da
      totalidade do Fundo e multa do art. 477, da CLT, devidamente acrescidos de
      correção monetária desde o desligamento e juros a partir do ajuizamento, além
      dos honorários assistenciais, tudo nos termos da fundamentação supra.
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      . VARA DO TRABALHO DE CAMPINAS
      Determina-se à reclamada o fornecimento das guias
      para saque do FGTS e requerimento do seguro desemprego, sem o que serão
      expedidos os alvarás correspondentes.
      Contribuições previdenciárias nos termos do art. 43
      da Lei nº 8212/91,com as alterações dadas pelo art. 1º da Lei nº 8620/93, e
      Provimento CR-02/93 da Corregedoria Geral da Justiça do Trabalho, e
      Imposto de Renda na conformidade do disposto na IN 1127/2011. Deverá a
      reclamada comprovar tais recolhimentos nos autos, sob pena de serem
      oficiados os órgãos fiscalizadores competentes. Autoriza-se a reclamada a
      promover a dedução, do que for pago ao reclamante, da cota que lhe couber,
      inclusive quanto ao Imposto de Renda, de acordo com a referida IN.
      Custas, pela reclamada, sobre o valor da condenação,
      ora arbitrado em R$ 6.000,00, no importe de R$ 120,00.
      Decisão publicada nos termos da S. 197, do TST.
      Nada mais.
      CARLOS EDUARDO OLIVEIRA DIAS
      Juiz Titular

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  4. Elenice

    Negamos-nos a comprar produtos chineses pelo trabalho escravo, agora fico estarrecida ao tomar conhecimento das táticas escusas utilizadas pela LC. Isso é trabalho escravo,pois além de remunerar mal usurpa a dignidade do ser humano.
    Ainda bem que o caráter das pessoas fazem-nas superar esses hediondos momentos de suas vidas, pq. senão o estrago seria irreversível.
    Isto posto Pink e os demais atingidos movam ações coletivas contra os monstros do capitalismo selvagem, não desistam por mais difícil que possa ser a contenda, eles precisam ser responsabilizados pelo que fizeram e a justiça tem que ser feita.
    À Livraria Cultura um alerta : ” Somos todos seres humanos. Portanto devemos tratar nosso próximo como gostaríamos de ser tratados, em qualquer esfera da vida”.
    Como vcs romperam a confiança que em vcs eu depositava, é óbvio que não mais usarei seus serviços.

    Responder
  5. Pingback: Blue Bus | Ex-funcionários da Livraria Cultura reclamam do patrao no Facebook

  6. Ana

    A resposta do Sérgio mostra bem o que se passa: http://www.jornalcomunicacao.ufpr.br/materia-16403.html

    “Segundo ele, a Livraria Cultura funciona como qualquer empresa varejista. ”

    “As reclamações dos funcionários em relação às condições de emprego dentro da empresa incomodaram o presidente. Segundo ele, por se tratarem de informações equivocadas. “A nossa empresa nunca fez nada diferente do que estava acordado no contrato. Nossa empresa é séria e não existe até o momento nenhum processo formalizado contra a Livraria. Nós sabemos que o trabalho em uma livraria é muitas vezes romantizado. *****A realidade não é essa: no final do dia o trabalho acaba sendo cansativo, o que é comum na rotina de trabalho em shoppings e grandes lojas****. O que nós fazemos é tentar tornar esse dia melhor para o funcionário”, explica.”

    Uma pena que a filosofia inicial tenha mudado. Antes, a LC não era o mesmo que uma loja de tênis ou docinhos, era um lugar que vendia e disseminava cultura. Hoje em dia dá no mesmo comprar um livro lá ou escolher um na prateleira do Extra Hipermercados.

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  7. Vinicius Manholer Santana

    Acredito nisto, era funcionário do departamento financeiro, minha gestora era a Marlei Gilberto, em 2003 no dia 06 de outubro minha filha nasceu, fiquei 5 dias de licença paternidade e quando retornei fui demitido sem nenhuma explicação!!!

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  8. Guilherme Costa

    Caramba, estava mesmo falando sobre isso com um amigo esses dias. De como podia a Cultura manter funcionários que entendem dos produtos que vendem, pessoas que mesmo sem nunca ter te visto antes, te tratam como amigos(as) de longa data e conseguem sugerir outros materiais que batem com o seu interesse, mesmo que tenhamos conversado por apenas 5 minutos. Sempre achei que pagavam salários muito acima do mercado, afinal, são essas pessoas que me faziam ir lá, em uma época que conseguimos comprar de tudo, sem sair de casa.
    A próxima vez que estiver em um shopping, e precisar comprar um livro, vou pensar nesse seu relato. A Cultura, além de um cliente, acabou de perder um fã da loja. Pois assim que eu me via, com o atendimento que pessoas como você, me davam! Obrigado por tudo (mesmo nunca tendo comprado em Curitiba!), e que você ache um local bacana para trabalhar, ou até mesmo abra seu próprio negócio, focado nas pessoas, nao apenas no lucro! Afinal de contas, não há nada melhor que um atendimento exemplar!!

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  9. dserodio

    Detestável o tratamento dispensado pela Livraria Cultura a seus funcionários, mas isso não é censura. Censura seria impedir que os funcionários publicassem tais informações, ou buscar a Justiça para remover tais informações da Internet.

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    1. Marina Rebelo

      tive a mesma sensação quando comecei a ler o relato, mas no próprio relato vi que eles começaram a demitir as pessoas por suas avaliações e reivindicações, e por divulgar isso em emails da própria empresa. A meu ver essa é sim uma postura de censura. A medida que eles demitem e constrangem as pessoas pelas suas opiniões e impede, através de assédio moral ou de punição exemplar, eles estão censurado seus funcionários sim.

      Responder
  10. ReservasBsb

    Fui censurado, humilhado, e demitido por justa causa( sem essa causa existir) e o que alegaram foi que se eu quisesse meus direitos que eu fosse na justiça, e foi o que fiz, mas na hora do julgamento “compraram” o meu advogado, que era defensor público, para retirarem o meu pedido de indenização por danos morais e assédio moral. Eu para não querer me envolver mais ainda com esse pessoal deixei para lá. Sofri por 2 anos no setor de Reservas e sempre que pedia uma oportunidade de promoção diziam que eu não estava apto, Me subjulgaram, me fizeram ir para psicólogo, fonoaudiólogo até mesmo me indicaram fazer uma cirurgia na língua, com a promessa de uma promoção e que o único empecilho era a minha dicção. Engraçado que eu não podia ser vendedor, mas era responsável pelo treinamento da Listen Station, pacote, Reserva, Telefonia tanto da loja Brasília Casa Park quanto toda a montagem e treinamento da Unidade Brasilia Iguatemi. Isso soa como um certo tom de hiprocisia, não?

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  11. natasha

    Sou cantora. Quando eu trabalhei lá, nas vendas, eu já era cantora e trabalhava à noite. Só passei um mês e meio lá, mas acreditem, foi a pior época que um vendedor pode viver no trabalho: NATAL. E, quando chegou a semana do natal, os vendedores eram obrigados a trabalharem uma hora a mais diariamente. Eu cheguei no RH e disse: “Não posso ficar uma hora a mais. Tenho que cantar à noite e não posso chegar atrasada”. E eu sabia que eles não podiam abusar do funcionário, e não iria ganhar hora extra com isso, então perguntei qual seria o ganho com essas horas a mais… o funcionário do RH respondeu, “você ganha um banco de horas e seus atrasos vão sendo descontados dele”… então eu simplesmente respondi “não quero esse banco de horas, obrigada. Vou sair no horário normal. E pronto, resolvido. O cara do RH era bem legal e justo. Deve ser por isso que foi demitido ou pediu demissão (eu sei que ele saiu).

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  12. Aerith

    Tb trabahei na Cultura de Brasília tem uns 6/7 anos e posso dizer que era a mesma coisa. Como disse a Leka em outro post, disfarçado de “autogestão”, rolava um paredão e quase uma santa inquisição lá dentro. As compradoras, que eram supostamente tambem gestoras de RH, humilhavam os funcionarios. Vi muita gente boa (pessoas com anos no mercado) chamados pra uma sala com 5 a 6 pessoas e ouvirem coisas do tipo que “era corpo mole”, “se achava mais do q era”, “era um incompetente”, etc. Na época incentivamos a entrar com assédio moral, mas como ja era um senhor, com anos no mercado livreiro/música clássica preferiu deixar pra la. Depois que eu sai, também fiquei sabendo que essa mesma turminha manipulou e fez demitir o antigo gestor de pessoal com mais de 20 anos de Livraria Cultura, que havia se mudado pra Brasilia de SP pra instalar a unidade. Era um clima péssimo, terrivel! Podem perguntar pra qualquer pessoa q trabalhou no Casa Park entre 2006 e 2008. E isso muito antes de qualquer gestão com o Itaú…

    Responder
  13. Denis Novais

    Estou compartilhando já e também deixando de ser cliente desta empresa desumana, perderam um bom cliente, como sou professor comprava vários livros, agora não passarei nem na porta…sorte aos funcionários

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  14. Andre Miguel

    Bem, eu sempre fui muito bem atendido na Cultura do Conjunto Nacional (São Paulo). Adoro lá.
    Imagino sim que não seja nada fácil pra quem trabalha lá, mas não existe empresa dos sonhos. “Quem quer o ônus, tem que arcar com o ônus”.
    Assim, não tá contente, procura outra coisa.
    Não sei se vc colocou só como exemplo o salário, mas sei mesmo que no PR, DF, etc paga-se menos que SP pra mesma função. Faz parte, por mais bizarro que pareça.
    Uma vez prestei serviço numa grande empresa no PR. Conversando com o pessoal eu me assustei e pensei “cara! Por esse salário eu não ponho nem o despertador pra tocar”
    E assim, no mundo inteiro eh assim.
    Fique em paz, mas desencana, pq não existe empresa dos sonhos.

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  15. Augustus

    Enfim… isso é o Brasil. Trabalho escravo? Vamos ter de chamar o Ministério Público e a Receita Federal para investigar a Cultura? Pois que se faça! Ética é o que precisamos, e empresas assim, merecem mesmo fechar as portas… Sem compras lá, mais

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  16. Jacy

    notei mesmo q os bons vendedores antigos da cultura do cj nacional sumiram e que até mesmo os vendedores da geek hj em dia sao apaticos e desanimados…
    é triste ver q um lugar q era tao especial nao existe mais…

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  17. maria cecilia de araujo gomes

    Absolutamente perplexa acredito em tudo que li e acho degradante a conduta desta “LIVRARIA” .Sou solidária aos funcionários. Vou pensar antes de continuar fazendo meus pedidos .

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  18. Pingback: A Crise da Livraria Cultura | Digaí

  19. maria jose pinto

    administro um “sebo” que tb trabalha com livros novos e por várias vezes, fizemos encomenda a essa malfadada livraria. Ao tomar conhecimento da maneira desleal e deselegante com que tratam seus funcionários, deixo de ser cliente por absoluta repugnäncia a quem assim age.

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  20. Guilherme

    O nome disso é capitalismo! As empresas sugam o trabalhador até não restar mais nada dele, aí o mandam embora. E azar de quem não gostar, pois tem milhares que não tem emprego e vão se sujeitar a isso. Isso que foi relatado ocorre em todas as empresas, em maior ou menor grau.

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    1. Vergonha...

      Trabalho a 3 anos na concorrente a LS e é mesma coisa. Infelizmente parece que esse é o padrão em todas livrarias. Pois a concorrência é tão ruim quanto a LC.

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  21. Luiz Claudio Lins

    Texto censurado no facebook escrito por um cliente da Livraria Cultura de Porto Alegre:

    “A Livraria Cultura , as demissões em massa e sua gênese”

    Em janeiro de 2009, conforme notícia veiculada pela Folha de São Paulo, o fundo Capital Mezanino, administrado em parceria pela gestora de recursos Neo Investimentos e pelo Banco Itaú, fechou a compra de uma participação minoritária na Livraria Cultura. O tamanho dessa participação e o valor do negócio não foram informados, mas segundo Pedro Herz – que assumiu a presidência do então recém-criado conselho de administração da livraria -, seus filhos Sérgio e Fábio permaneceriam ocupando a diretoria de operações e a diretoria comercial. Entretanto, o conselho da empresa passou também a ser integrado por Filipe Pontual, do Itaú, Henrique Alvarez, da Neo Investimentos, Felipe Andrade, do banco de investimentos Broadspan Capital, e Ronald Herscovici, do escritório Souza, Cescon Avessidian, Barrier e Flesh Advogados.

    Muita gente vinda de fora, não é mesmo?, que desde então (coincidência?), apesar da participação minoritária, vem produzindo estragos notavelmente nefastos no ambiente de trabalho da livraria, onde reina a intranquilidade e o desconforto de se viver à beira do abismo do desemprego. A Cultura de hoje não é mais a mesma de antigamente – em sua loja de Porto Alegre já não vejo muitos dos amigos que lá conheci: alguns abandonaram o barco por não suportarem o clima opressivo que nele se instalou, nos últimos tempos; outros foram lançados ao mar; e é grande a rotatividade, notadamente nos caixas. Mas a Cultura piorará, para quem nela trabalha, pelo que se lê na página do Facebook criada por alguns de seus, presumo, já numerosos ex-funcionários: a página Jeito Censura de Ser, assim nomeada em oposição ao lema Jeito Cultura de Ser, da livraria, que vem perdendo sua aura desde quando, de tempo a tempo, a imprensa noticia demissões em massa de funcionários da empresa, em função, as mais das vezes, de seus altos salários.

    Como declarou um dos novos conselheiros da livraria, quando da efetivação da parceria, “Investir em livrarias, em especial com um modelo de negócio vencedor, como tem sido o desenvolvido pela Cultura, é uma excelente alternativa”. Para ele, nos momentos de crise as pessoas precisam se reinventar, e a educação acaba sendo valorizada.

    Ora, se em 2009 a Livraria Cultura faturou R$ 230 milhões, com aumento de 50% sobre a receita de 2007, era um modelo de negócio vencendor e no grupo trabalhavam 1,3 mil funcionários (quantos serão hoje os remanescentes?), a que crise aludiu o conselheiro? E em que sentido “a educação acaba sendo valorizada quando as pessoas se reinventam”? E o que é, precisamente, reinventar-se como pessoa? Palavras vãs e nada mais, pois, em geral – e eu disse em geral! -, alguns executivos costumam fazer uso de frases feitas como essas quando se aventuram fora do campo estreito de suas atividades e ambições, pouco afeitos que são à cultura, menos ainda aos livros (que não os que lhes ensinam a encontrar um “modelo de negócio vencendor” ou “excelentes alternativas”, como no caso da Cultura). Mas sem dúvida eles são dotados do faro apurado dos cães para o lucro, da disposição dos predadores para a destruição de pessoas e o aviltamento dos salários. Richard Sennett, em seu livro A Corrosão do Caráter, trata desse tipo de gente ao falar do homem de Davos, que qualifica de implacável e ganancioso, ressalvando, entretanto, que ”só essas qualidades animais não bastam para explicar os traços de caráter dos magnatas da tecnologia, dos capitalistas de risco e [é destes que aqui trataremos a seguir] dos especialistas em reengenharia empresarial ali reunidos”.

    De um livrinho que ficou famoso – Reengenharia, Revolucionando a empresa em função dos clientes, da concorrência e das grandes mudanças da gerência, de Michael Hammer e James Champy, Editora Campus, 1994 -, deriva o que se passa dentro da Livraria Cultura nos dias atuais. Já na Introdução, e sem traços de modéstia, seus autores declaram que suas ideias “são tão importantes para as empresas atuais como as ideias de Adam Smith o foram para os empresários e gerentes dos últimos dois séculos”. E mais: não satisfeitos em ombrear-se com um dos fundadores da Economia Política – os outros seriam François Quesnay e os fisiocratas -, os autores declaram ainda que “na reengenharia, o modelo industrial [e o empresarial] é virado de cabeça para baixo”, uma metáfora, ao que parece, alusiva ao que escreveu um outro revolucionário, Carl Marx, a respeito do que ele houvera feito com a filosofia de Hegel.

    A reengenharia foi, e ainda é, a mais revolucionária e devastadora técnica de reordenação da pirâmide administrativa das empresas em novas e flexíveis hierarquias: foi ela que ensinou a suprimir degraus da escada que vai do topo da pirâmide administrativa ao chão de fábrica, prometeu maximizar lucros, agilizar tomadas de decisão, e, mais que tudo, “fazer mais com menos por menos”, o que vem sendo realizado à exaustão dentro das empresas. Para os autores, reengenharia “é o repensar fundamental e a reestruturação radical dos processos empresariais que visam alcançar drásticas melhorias em indicadores críticos e contemporâneos de desempenho, tais como custos, qualidade, atendimento e velocidade”. Do que sei dela, da reengenharia, à qual se agregaram outras práticas de mercado hoje corriqueiras, posso afirmar que somente os custos são drasticamente reduzidos ao longo do processo obsessivo, interminável e jamais saciado da reestruturação. Quanto aos demais indicadores críticos – qualidade, atendimento e velocidade -, nunca passaram de corolário para que o mal maior seja perpetrado: o desemprego em massa e a redução drástica dos salários, uma tragédia da contemporaneidade, razão por que, sabe-se agora, a Livraria Cultura vendeu ao diabo tanto a sua alma quanto os ideais de dona Eva Herz, uma amante dos livros, mais que do dinheiro, que abriu sua livraria com apenas três livros e cercou-se de gente que também os amava – assim foi até 2009. Essa notável senhora pertenceu a uma estirpe nobre hoje em extinção – quem sabe já extinta -, a dos livreiros que, além do amor aos livros, também prezavam a cultura. A essa estirpe também pertenceu José Olympio, do Rio de Janeiro, um outro exemplo notável de livreiro (ler sobre dona Eva Herz em http://www.casodesucesso.com/?conteudoId=12).

    Infelizmente, para mim que sempre amei a Cultura, e para os tantos funcionários sacrificados em nome de uma insaciável busca pelo lucro sempre crescente e a redução de custos jamais alcançada, pois que eternizada, eu antevejo que a Livraria Cultura pregredirá e inaugurará muitas outras livrarias, ainda mais depois de conseguir o aporte de R$ 28 milhões do BNDES (ler resportagem em http://g1.globo.com/economia/noticia/2013/05/livraria-cultura-recebera-r-28-milhoes-do-bndes.html); que o filho e os netos de Dona Eva Herz – insensíveis à dor que causam a quem trabalha em suas lojas e atende aos seus clientes com dedicação e competência, razão do sucesso da livraria – se tornarão mais ricos e poderosos com a expansão dos negócios; mais ainda com as seguidas demissões em massa, o achatamento dos salários e a substituição, ao longo do que virá, de funcionários que tratam os livros como conteúdos literários por outros de menor saber, que os tratarão como simples mercadoria. Também antevejo com pesar que dentro em pouco não se encontrará em suas lojas alguém com quem se possa trocar ideias a respeito de autores e obras, mas vendedores que mal saberão falar do que vendem, que mal se sustentarão com os salários que a livraria paga por seus serviços. E eles não serão culpados por seu despreparo, mas vítimas, talvez frustradas pelo pouco que ganham, de quem se satisfaz com o pouco que oferecem. Para completar esse quadro, só falta mesmo à Cultura estabelecer metas de venda para os funcionários, à semelhança do que faz o Itaú, que ocupa assento em seu Conselho de Administração, com seus gerentes, que às vezes se sentem contrangidos ao pedir favores a seus clientes.

    Lamentavelmente, perdeu-se de uma vez e para sempre a certeza de que se manteria no emprego quem fosse competente no que fazia, assíduo e responsável, pois as empresas atuais alardeiam desprezar o profissional de longa experiência – leia-se, de salário incompatível com os novos e a cada dia mais carcomidos patamares de remuneração -, e dispensam a lealdade que ele lhes devotava no passado. Permanência fugaz, submissão a longas jornadas não remuneradas, doação da própria alma, renúncia ao lazer, conformidade a salários em queda livre, intranquilidade, insegurança, estresse, desespero e surda revolta, são as novas palavras de ordem, uma estranha mealha de competências a ecoar uma outra era de iniquidades: 1848, ano em que trabalhadores miseráveis e camponeses esfomeados puseram abaixo o reinado de Luiz Felipe na França e sublevaram-se contra o império multinacional dos Habsburgo. Fracassaram em seu intento, pois quase tudo o que conquistaram, exceto pelo pouco que ganharam na França, voltou aos seus antigos lugares. Hoje, 1848 é só um marco do “triunfo de uma sociedade que acreditou que o crescimento econômico repousava na competição da livre iniciativa privada, no sucesso de comprar tudo no mercado mais barato (inclusive o trabalho) e vender no mais caro” *.

    Dobrando-se a fita do tempo, onde são gravados os eventos da História, no ponto que assinala o esplendor do Império Bizantino, o século de Justiniano I e Teodora, ouvir-se-á do outro lado, no marco que faceia o alvorecer do Século XXI, a voz de Homero a proclamar as palavras com que Aquiles diz a Agamémnone (CEO da campanha grega pela tomada de Tróia) o mesmo que um trabalhador de hoje, terceirizado ou não, poderia dizer, se pudesse, ao seu patrão:

    “É bem verdade que a parte mais dura dos prélios sangrentosa estes meus braços compete; mas quando se passa à partilha,sempre o quinhão mais valioso te cabe, enquanto eu me contentocom recolher-me ao navio, alquebrado, com paga mesquinha” **.

    Essas palavras, ditas há cerca de três mil anos, jamais perderam seus significados.

    *) Eric J. Hobsbawn, A Era do Capital 1848-1875, Editora Paz e Terra (2000), p. 19.**) Homero: Ilíada, Canto I, v. 165-168 Editora Ediouro (2001), tradução de Carlos Alberto Nunes.

    Wagner Mourão Brasil, (de Porto Alegre,RS)
    http://www.facebook.com/wagner.mouraobrasil

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    1. Elenice

      Belo retrospecto e conclusão . Realmente não avançamos nada em termos de humanização , o ser humano continua egoísta e irracional, pois o lucro desenfreado ” status quo” , a usura , o poder e outras anomalias são o que os alimenta.

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  22. José Carlos

    Aqui em PE tem a LC no Passo da Alfândega, sou sincero, nunca comprei livros lá pois fica distante da minha casa, mas sempre tive vontade de conhecer devido a diversos amigos que frequentam, sempre falarem bem de lá . Essa ideia foi completamente apagada depois do que eu li aqui. Hoje sou funcionário público, mas já sofri bastante em empresas com esse tipo de postura para com os funcionários e confesso ter ojeriza por esse tipo de comportamento inaceitável. Não sei o que essas empresas ganham com isso. Já vi empresas que trabalhei terem prejuízos terríveis com funcionários desgostosos. Pode demorar, mas com certeza essa empresa vai afundar…

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  23. Pingback: Livraria Cultura, demissões em massa e alguns números » PyrsonaPyrsona

  24. Milena F. - Viver Plenamente Paris

    Muito triste esse tratamento dados aos funcionarios, tem mais é que buscar os seus direitos! Além disso, o sietema de remuneração e as comissões precisam ser claras!!! Porém, por outro lado, eu tb me coloco no lado da empresa e entendo que ela prefira se desfazer de pessoas que falam mal dela pela internet (o que significa que a pessoa não estah contente). Ceder a todas as reivindicações dos funcionarios? Em uma empresa de 5 mil funcionarios, são 15 mil reivindicações (se fazemos uma média de 3 por pessoa), e ceder no individual ou coletivo seria uma forma de se tornar refem do funcionario.
    Vivo e trabalho na França, jah participei de mudanças de sede e de instalação de lojas, aqui as empresas não dão “agua”, cada um sai de casa com a sua garrafinha. E até o diretor ajuda a empacotar e desempacotar as coisas…

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    1. Luiz Claudio Lins

      Não Milena, as empresas não se tornam refém de funcionários. Elas dialogam e negociam, Para isso que existem os sindicatos, as organizações de classe e a mobilização. Não sei qual a empresa que você trabalha na França mas eu trabalhei na Fnac daí. E a maioria dos funcionários eram sindicalizados e cobravam permanentemente melhores condições de trabalho. Algumas eram atendidas outras não (como é de praxe das relações entre patrões e empregados).

      A montagem de uma loja é um problema menor diante do que ocorre no dia a dia. O que está se tratando aqui é de uma postura empresarial desrespeitosa e anacrônica que já foi abolida em muitos lugares.

      Lugares justamente onde a consciência de que é uma empresa tem no seu capital humano não algo que que sejja descartável como “peça defeituosa” mas sim alguém que deva ser ouvido, desenvolvido e capacitado como cidadão.

      Uma empresa que acredita que essa rotatividade perversa é a solução está indo na contra-mão da história e verá o que as empresas europeias estão se deparando diante da crise. Perdem todos: empresários, funcionários e mercado.

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  25. Mauricio

    Como a maioria das pessoas que fizeram depoimentos, também sou ex-funcionário da LC, mas aqui de SP, no Conjunto Nacional, Av. Paulista. É o mesmo esquema, tratamentos desumanos e desrespeito com seus funcionários. Tudo bem que o salário é um pouco maior do que as outras lojas do Brasil, mas a cobrança é proporcional. Na loja, há um número infinito de câmeras. Se vc ficar em qualquer posição que não seja de um soldado (pernas sempre retas, peito empinado, etc) a coordenação observa pelas câmeras e vem correndo chamar sua atenção (inclusive com sonoras broncas na frente de clientes). A opressão é tão grande que vendedores chegam a desarrumar as estantes, para começarem uma nova (mesma) arrumação, só para dar a impressão que estão sempre trabalhando, pois se a coordenação ver alguém que classifique como “improdutivo”, a bronca é certa. A pressão é constante, os vendedores mais velhos aderiram o sistema e também tornam-se opressores, com o aval da coordenação. Consegui ficar lá apenas três meses e saí com fortes indícios de depressão. Os valores perpetuados pela loja ao público não coincidem com as demandas internas na loja. Trabalho há 30 anos e posso dizer, sem sombra de dúvida, que foi o pior emprego que tive na minha vida.

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  26. cristina maia

    Aplausos para a família da sra. Eva Herz, que desde 1947 vem enriquecendo às custas da humilhação e do descaso para com seus funcionários!

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  27. Wagner Alberto

    Trabalhei na Cultura do Rio de Janeiro(FMR e CNV), de Novembro de 2012 até 15 de Fevereiro de 2013, no setor de informatica.Conheci ótimas pessoas, entretanto meu problema com a Cultura está na questão da minha rescisão, que até agora não me pagaram e ficam enrolando, eu queria resolve tudo isso numa boa, eles não quiseram agora estou inclinado a ir pra justiça porque está uma situação insustentável. Com o lema de que o cliente não sai da Livraria sem uma satisfação, eu como ex funcionário entrei diversas vezes em contato via telefone ou pessoalmente e sempre recebo a mesma resposta:”Tem que esperar, tem que esperar”, que dizer satisfação nenhuma.Enfim essa é toda minha insatisfação perante ao tratamento da Livraria comigo.

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  28. Luiz Claudio Lins

    Importante relato de um ex-funcionário da filial Campinas:

    Sinto-me talvez na “obrigação” de pronunciar-me diante destes últimos ocorridos envolvendo o noma da empresa Livraria Cultura, do qual fiz parte durante um ano e do qual muitos aqui sabem que tive problemas com certa repercussão em meu desligamento e também problemas expressivos durante minha permanência nesta livraria.

    Para quem tiver paciência de ler:

    É importante dizer que quando os diretores da empresa apresentaram-se pela primeira vez aos funcionários da unidade de Campinas, em uma reunião de clima super pesado e constrangedor, antes de qualquer suposição dos funcionários, que ali estavam ainda ilusoriamente em fase de “empolgação”, o diretor Sérgio Herz (filho de Pedro Herz) pronunciou-se com a primeira frase que me fez ter dimensão exata de onde eu estava me metendo. A loja seria inaugurada, nós eramos a primeira turma. Fizemos um treinamento de 40 dias e montamos a loja.

    Sergio Herz, em seu desenrolar desafetuoso, rancoroso e defensivo, pressupondo em seu escudo que se ergue até diante de pessoas que querem estar ao seu lado, de maneira totalmente desestimulante e desnecessária, disse, entre outras coisas, a máxima corrente na empresa ( e que consta do seu último “Comunicado Oficial”), que “trabalhar na Livraria Cultura é uma escolha não uma obrigação (que mais lembra o filme “O Cheiro do Ralo” – “fiz porque quis”). A máxima capitalista que te faz acreditar que você trabalha porque quer.

    Para arrematar essa concepção ainda reforçou com o lamentável exemplo classista sobre a forma ignorante do brasileiro comprar bens de consumo à prestação mesmo se auto-onerando ( a “síndrome da geladeira das Casas Bahia”). Alguém que faz este tipo de declaração ao se apresentar aos funcionários de sua empresa, primeiramente é um analfabeto sociopolítico, filho mimado de uma elite milionária que não lhe ensinou que as pessoas pagam prestações pequenas para ter uma geladeira em casa porque simplesmente não são economicamente capazes de fazer uma reserva de dinheiro desta proporção, enquanto aguardam em casa sem geladeira alguma para guardar a pouca comida que nunca faltou em excesso para Sergio Herz. Pensei que ele fosse apenas um cara meio bobo, mas depois ao longo do tempo percebi que ele não era nem um pouco bobo. Descobri existir ali uma maneira muito bem elaborada de controlar pessoas.

    Colocando as claras: tudo o que se tem dito sobre a empresa é verdade. Fui funcionário da filial Campinas antes da sociedade com o Itaú (sociedade essa que gerou desempregos inesperados em sua criação), mas em minha época diversos procedimentos eram ilegais e muitas situações feriam leis trabalhistas. Cheguei a fazer o que eles chamavam de “doação”. Avisei para um cliente que o produto dele chegaria no dia X. Chegada a data, o produto não estava na loja e não avisei o cliente a tempo, que foi até a loja, e isso gerou algo que era muito comum e tratado com naturalidade: eu mesmo tive que pagar o produto para o cliente, do meu bolso. Na folha de pagamento a discrição do desconto tinha outro nome qualquer, pois o procedimento é ilegal. Um funcionário que trabalhava na recepção de produtos chegou a fazer doações no valor de aproximadamente R$300 ou R$400 se não me engano.

    Muitas vezes o calendário não estava dentro das normas trabalhistas também o que fazia, frequentemente, com que as folgas fossem ilegalmente desrespeitadas. Poucos funcionários sabiam que a situação era irregular e proibida. Ganhávamos a chamada “comissão coletiva”. Ou seja, os lucros da empresa eram calculados e distribuídos aos funcionários como forma de comissão. Mas o salário era sempre no mesmo valor precário, enquanto a loja vendia quantidades e mais quantidades absurdas, e o valor do faturamento da loja era mantido em sigilo.

    Quando um funcionário questionou que a comissão era uma fatia do faturamento da loja, mas que o faturamento era mantido em sigilo, ele foi atacado hostilmente pelos seus “superiores”, que defendiam o argumento de que tínhamos que confiar na idoneidade da empresa. Tudo era inteligentemente armado para você acreditar que fazia parte de uma família, que a “Cultura era a sua casa.”

    Creio que todas essas e outras questões práticas e pautadas em leis agora serão melhor fiscalizadas, depois de toda a bomba na mídia.

    Mas existe uma situação muito pior que tudo isso, do qual vejo com enorme pessimismo: esta empresa trabalha com uma estrutura de manipulação das pessoas que realmente é algo muito sério. Funcionários são absolutamente condicionados a entrar em um jogo conflituoso onde passam a se delatar, criando intrigas que nem mesmo existem. Não sei se ainda é assim, mas acredito que seja. Elegem alguumas pessoas com determinado perfil, e os convocam para reuniões sigilosas onde são orientados a entrar nestes esquemas de vigia sobre seus colegas.

    Por algum motivo, muitos funcionários aderem a estas manipulações e passam a entregar seus colegas passando a incorporar pequenos tiranos que não baixam sua vigia construída sobre um manto rancoroso, um pensamento que sugere o tempo todo que o seu colega vai te prejudicar, que se o seu colega não for um escravo devoto e neurótico você terá que trabalhar por ele. Um discurso ardiloso que convence as pessoas a serem apaixonadas pela empresa e pela necessidade de perseguir os outros funcionários.

    Existia uma hostilidade muito estranha e desnecessária em todo o ambiente. Os vendedores eram enganados discursos sobre serem livres, terem autonomia e serem auto-gestores. E na verdade todos estavam em uma armadilha tão vil, como se aquilo fosse uma coisa realmente importante, como se fosse uma questão de vida e morte. Estavam apenas todos sendo absolutamente explorados e gastando suas energias para tentar construir intrigas, falácias, traições, fofocas, etc.

    Tivemos, como um dos exemplos, um colega que faltou em um feriado emendado. Ligou avisando e disse que tinha atestado médico para isso, e era verdade. Eu o conhecia e sabia que apesar dele não dar a mínima para a empresa e para o emprego, realmente ele estava passando por um momento em que as coisas não estavam bem e o atestado não era um “truque”. Um dos nossos chefes passou de vendedor em vendedor, na loja toda, contando o que o funcionário em questão havia feito, criando um clima de perseguição, distribuindo a responsabilidade entre todos os vendedores, diluindo assim esse problema para que todos hostilizassem este funcionário. Debochando da história contada pelo funcionário e espalhando a obrigação de que todos se voltassem contra esta pessoa. Não estamos falando de pequenas fofocas, estamos falando do comunicado oficial do seu chefe.

    Narrando pode parecer uma coisa cotidiana e quase normal feita por um cara meio otário, mas acreditem no clima de inquisição que vos digo. Quem fez isso foi o chefe geral da loja, o chamado “comprador pleno”, que estava acima de toda a hierarquia da loja de Campinas. Estamos falando de muito, muito veneno.

    As reuniões eram sempre muito tensas e sempre traziam essa confirmação do clima de perseguição, de “vigie seu colega”, devíamos punir o tempo todo, sermos pequenos chefes. E muitos (a maioria) acreditava neste sistema e caia nessas conversas, mesmo ganhando um salário de R$900 por mês, em uma loja que faturava milhões e dizia estar nos dando uma comissão coletiva do faturamento total da loja.

    Lembro-me de um funcionário, que depois foi promovido a “comprador” (nome que se dava aos gerentes), uma vez questionar que uma garota ia muitas vezes ao banheiro, dizendo para ela – “mas você não acha que está indo muito ao banheiro hoje?”. Este sujeito em questão foi depois promovido e era adorado pelos seus superiores. Era isso que aquele ambiente precisava, uma pessoa que vigiava até suas necessidades básicas e fazia cobranças constrangedoras sobre isso.

    Até os nossos colegas com longa experiência profissional ficavam assustados em notar o sistema que eles criaram para gerenciar uma simples livraria de shopping. Era sim uma rede estruturada friamente para criar relações que simplesmente não eram necessárias. Era um ambiente muito hostil, mas acabava sendo quase um bom ambiente para aqueles que conseguiam encontrar colegas honestos e se juntar numa espécie de resistência silenciosa de toda aquela perseguição. Deste modo também foi possível criar alguns bons momentos ali dentro, fazer bons vínculos e ir levando as coisas como podíamos.

    Tive colegas que foram chamados em reuniões particulares, em segredo, e para eles eram propostos acordos, maneiras de fazer com que essa pessoa ficasse delatando outras pessoas, descobrindo coisas. Mas que coisas? Que mistérios podem existir em uma porra de uma loja de shopping que vende livros e CDs? Eles são inventores de intrigas. Eles as criam, criam a vileza, estão sempre inoculando o veneno para depois inventar um antídoto ainda pior que a doença.

    Recentemente o escritor moçambicano Mia Couto esteve bastante presente na mídia brasileira, e em uma de suas declarações afirmou: “Não há outro caminho que não seja a insubordinação”.

    Eu fiquei tão, mas tão constrangido de ver colegas de Facebook, que trabalham ainda na Livraria Cultura.,defendendo esta empresa. Para estes aquele é um bom ambiente e algumas pessoas se identificam (ou são tristemente obrigadas a se identificar) com aquele esquema, aquela rotina, e isso é absolutamente respeitável. Mas defender a empresa e ainda atacar os funcionários que estão denunciando os abusos desta empresa, isso é realmente algo que passa muito longe da minha compreensão.

    Isso só prova que a lavagem cerebral existe, que a manipulação é bem feita ali dentro. Prova que existe gente carente de discernimento que é conquistada por um discurso tão negativo, tão desnecessário, tão opressor, tão aprisionador e chantagista. E é claro que isso tudo é criado com sorriso, com charme, em meio a conversas sobre livros interessantes, música boa, etc… Para alguns é difícil desconfiar quando alguém lê um trecho lindo de um livro do Coetzee, te mostra um disco maravilhoso, cheio de simpatia, e depois diz que seu colega está fazendo com que você se prejudique, sendo que o único que tem chances de ser prejudicado ali é o lucro da empresa, e que mesmo com vendedores horríveis iria vender pra cacete do mesmo jeito.

    Depois que me desliguei da empresa, em um clima tenso que gerou desconforto e algumas repercussões negativas, fui uma vez até a loja buscar uma encomenda da minha ex-namorada, e então o comprador pleno da loja disse para um colega meu que era um absurdo eu ir lá depois de tudo isso. Ele dizia isso defendendo um território, uma casa, uma família. Como se aquilo fosse um universo, uma vida, um ambiente fechado onde é necessário mostrar os dentes para cada passo que se dá.

    A Livraria Cultura (pelo menos a de Campinas, e pelo menos na minha época, que foi de 2008 até 2009) é (ou era) realmente uma empresa totalmente irregular em leis trabalhistas, realmente perseguindo seus funcionários e hostilizando qualquer pessoas que questione essas regras tão absurdas. Essa demissão em massa não me surpreende nem um pouco.

    Isso tudo me parece bom motivo o suficiente para abrir a questão para o debate. Não quero atacar irracionalmente algo por rancor, quero apenas deixar claro a minha experiência e dizer que os meus ex-colegas de trabalho, que se manifestaram defendendo a Livraria Cultura, usam de argumentos que simplesmente negam o debate e a transparência.

    Eu não tenho motivo algum para inventar essas coisas. Já os diretores cínicos desta empresa tão estranha com certeza possuem diversos motivos para distorcer a realidade criada por eles. Mas dizem que eu estava lá porque eu queria…

    Escrevo tudo isso apenas por respeito aos funcionários demitidos em massa que manifestaram-se e foram hostilizados ou ironizados por funcionários que sofreram essa manipulação opressora criada como método de controlar uma grande empresa. Empresa essa que nada mais faz do que vender produtos para que seus chefes andem de helicóptero e esquiem na neve enquanto você se fode de pé o dia todo ganhando um salário de fome que se baseia em uma mentira ilegal.

    Pedro Spagnol
    http://www.facebook.com/pedrospagnol

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    1. Júlia

      Nossa, Pedro, este teu relato é ótimo, contundente e bem-escrito. Fiquei lendo e pensando, tomara que haja o levante dos funcionários das grandes lojas do Brasil, seria lindo! E fiquei refletindo também sobre a parte em que tu fala sobre como alguns funcionários eram enredados e convencidos a delatar os colegas; trabalhei também em uma instituição de ensino aqui de Porto Alegre, de cunho religioso (adventista – pq menciono isto? pq ser da religião era a “senha” para ser empregado no local – e ser da religião determinava muita coisa lá dentro – menos um espírito genuíno de colaboração e aprendizagem), e o clima era EXATAMENTE este! Delação e picuinha total, aprovada e incentivada pelo “gestor”, que era da família real, proprietária do local.

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  29. Semiografo

    Andre Araujo: duvido que na Saraiva ou na Fnac seja muito diferente disso. Essas lojas que vendem best-sellers em shopping são todas umas porcarias. Ontem mesmo fui na Saraiva e as seções de computação, matemática e filosofia eram uma lástima (estava procurando livros nas três áreas), só best-seller e livrinho superficial que não dá nem para ler na hora de fazer um número dois.

    Aliás, o livro está vivendo uma decadência parecida com a do CD, mas não porque as pessoas não gostem de ler, pelo contrário; o problema é que as livrarias de shopping lembram muito cinema de shopping, dado o enfoque nos blockbusters. O mau trato com os funcionários só demonstra mais uma faceta do problema do mercado de cultura no Brasil.

    Shopping center em geral é algo do qual procuro manter distância. Ontem entrei num por acaso, pois fica integrado ao bairro aqui em Porto Alegre (shopping Moinhos, até um dos menos piores em termos de conceito de shopping). O empregador de loja de shopping repassa o custo do aluguel da loja, dos royalties da franquia e da máquina de cartão de crédito para o funcionário, criando um clima de estresse muito grande que acaba transparecendo para o cliente. Como não gosto de perceber isso, prefiro frequentar o comércio de rua, mais familiar e personalizado.

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  30. fellipeernesto

    Eu lamentei muito o ocorrido com tantos funcionários da Livraria Cultura, pois, acima de todos os consumidores de livros e da estrutura sempre ampla das lojas físicas, havia um atendimento sempre cortez, cativante e agradável por parte dos funcionários de venda e caixa.

    Quando fui pela primeira vez à LC de Recife (foi minha primeira vez à uma loja física da Livraria), eu fiquei ‘encantado’ com as funcionárias que estavam colocando os livros nas estantes e, para minha surpresa, com o atendimento nos caixas (que, até então, sempre tive a impressão de que os funcionários dos caixas são sérios e rudes, de vez em quando, em razão do cansaço com o fluxo de compras).

    Um estabelecimento público é feito por uma boa administração, um ambiente amplo e limpo, e, sobretudo, pelo bom atendimento ao consumidor, feito pelos funcionários… Achei lamentável esse tratamento da LC com funcionários que atuam “diretamente” com os clientes/consumidores; os funcionários são, com toda razão, os maiores responsáveis pela LC ser um ambiente bacana; e é lamentável mesmo é perceber que o caso não é isolado.

    Os preços dos livros na LC são “salgados”, e algumas vezes, nada atrativos. O que nos atrai é a diversidade de livros e objetos à disposição para compra, mas, torno a repetir, o atendimento. E os funcionários mais antigos eram os mais agradáveis. Dava muito gosto “agradecer” pela gentileza, que podia ser uma gentileza ‘obrigada’ pelo serviço da loja, mas que, enquanto clientes, sentíamos ser muito natural. Por isso, agradecer e retornar à loja física se tornava quase uma obrigação…

    Lamentável, Livraria Cultura. Ela não será mais a mesma, pois, empresários e os grupos “lá de cima”, parece que esqueceram de uma máxima que paira silenciosamente em qualquer empresa de grande porte: os funcionários “lá de baixo” são os maiores responsáveis pelo contato com os consumidores e pela longa relação entre empresa e cliente. Meu apoio aos funcionários demitidos, que não conheço em particular, mas me solidarizo com suas situações.

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  31. Jonh Wesley

    Meus Deus! Reações despropositais de ambos os lados. A Cultura poderia ter se mostrado superior ao e-mail pela Eliza Moura (que já foi tirado do ar). E agora? Passado os 15 minutos de fama, o que será dessa moça? Conseguirá arranjar outro emprego? Pois se ela fez isso com a Livraria Cultura Decerto que fará com outras empresas que trabalhará e ao ser demitida fará o mesmo. A geração Z em choque com o mundo real. Até no facebook a página perde sua força. E é muito ingênuo constatar que as vendas da Cultura vão diminuir por causa desse episódio brutal, mas muito, muito educativo. Parabéns á coragem dessa moça.

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  32. Melissa

    Minha mãe trabalhou na Administração da Cultura no começo do ano passado e também foi desligada por motivos que até hoje ela não entende direito mesmo sendo uma ótima funcionária, uma pena, porque ela gostava muito de lá.

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  34. Fabiano

    Não costumo chorar o leite derramado ou uma demissão, mas escrevo aqui um pequeno desabafo e um pequeno resumo do que aconteceu realmente neste local que aqui fiquei por mais de um ano.
    Comecei na empresa eufórico, pois havia encontrado um local bom para trabalhar, e com um horário flexível para que conseguisse manter os dois empregos, Vigilante e Professor.
    Logo fiquei mais animado com a empresa, pois o coordenador veio até mim, e disse que era para eu aprender tudo na empresa, como escala, CFTV, procedimentos, etc. porque logo haveria uma vaga e no momento ele não contava com ninguém apto para exercer a função, palavras dele, e que na empresa, ninguém gostava de aprender.
    Bom, fiz curso de CFTV, aprendi quase tudo e logo fui ganhando espaço e a confiança do coordenador, esse foi o ponto positivo, o ponto negativo foi que com isso, consegui desavenças na empresa, porque os mesmos não entendiam o porquê de eu ter as chances e aqueles que estavam com as funções não.
    Eu ouvia reclamações, problemas e tinha que ficar quieto sem poder fazer nada, aliás, fazer fiz, ou pelo menos tentei, consegui fazer uma escala de trabalho mais dividida, já que ali éramos todos da mesma função e não ganhávamos nada a mais para isso.
    Foi passando o tempo e com isso foram aumentando minhas atribuições: escala diária de trabalho, esta ficava pronta para uma semana, escala de folgas, relatórios do CFTV, relatórios da prevenção de perdas, baixa em notas fiscais de devolução, esta que dava muito trabalho, porque o coordenador não fazia questão nenhuma de acompanhar e havia muita falta de notas, tentava melhorar nossas condições de trabalho em geral, e com isso ganhei horas e horas de dor de cabeça e chegava em casa estressado e acabei por abandonar por algum tempo a escola que adoro lecionar, ficando assim, financeiramente apertado, pago aluguel e precisava do dinheiro da escola para ficar um pouco mais tranquilo.
    Foi passando o tempo e as desavenças foram aumentando e num belo domingo aconteceu um problema e acarretou num atraso de abertura de loja, resumindo, caiu em mim a culpa, fui acusado de não informar a pessoa de que ela teria de entrar mais cedo no dia, enfim, chegou na segunda-feira, o coordenador ficou sabendo do ocorrido, e achei que ele teria a hombridade e defender ou pelo menos apoiar aquele que estava fazendo a escala, bom, não foi isso que aconteceu e tive que ouvir a coisa mais humilhante de minha vida, após o coordenador tentar alterar a escala sem sucesso, o mesmo não tinha ideia de como fazê-la, e foi recusada por mim e outro companheiro, e assim que negamos a ideia ouvimos a seguinte frase disparada pelo senhorio da prevenção, este que deveria ser nosso espelho e dar-nos apoio: “ façam do jeito de vocês e não chegando em mim ( no caso as discussões e brigas) eu quero e que se fod…!”. Tivemos que ouvir duas vezes essas palavras e acabamos ficando quietos, já que ninguém poderia nos ajudar.
    Completando um ano de empresa, houve um tal de perfil performance, onde os seus colegas de trabalho dão notas para seu desempenho, no meu caso, a nota foi 95! Enfim, consegui todos os quesitos para uma “promoção”: 1 ano de empresa, nota no perfil acima de 90, não tinha advertências e nem mesmo havia dado um único atestado durante todo o ano, não sou o bam-bam-bam, mas cheguei a trabalhar doente para não complicar para meus colegas, já que eu tinha ciência que a minha ausência acarretaria um aperto na escala.
    Não consegui sequer ser ouvido sobre essa “promoção” e ouvia as mesmas desculpas, foi nesse dia que entendi a colega que ali ficou por algum tempo e que hoje acha que foi eu o culpado por ela ter sido demitida, e sinceramente, nenhum dos colegas tiveram influência sobre isso, foi uma decisão única e exclusiva do coordenador.
    Após algum tempo, introduziram uma abordagem de acionamento de entrada e saída de loja para que os colaboradores da prevenção de perdas fizessem a abordagem em loja, com isso, foram aumentando as atribuições dos colegas e não havia gratificação alguma por isso. Única coisa que eu consegui foi idas ao fórum para audiências e mais estresse, já que com as abordagens gerava reclamações dos clientes e estávamos sozinhos, contando apenas com o auxílio dos responsáveis de loja.
    Foi aumentando o estresse de todos e com isso, aumentando também as desavenças na equipe.
    Passado algum tempo, foram mais dois desligamentos, que por mim, foram erradas ao ponto profissional, mas as pessoas são demitidas pelo lado pessoal nesta empresa. Tem que ouvir, fazer e não reclamar!
    Passaram-se mais algum tempo, e comecei a perceber algumas coisas erradas que ali estavam acontecendo e tentei muda-las, sem sucesso.
    Foram chegando a época de minhas férias, e fiquei animado, pois estava cansado, estressado e precisava de um tempo. Acertei minhas férias para julho, do dia 01 ao dia 20, venderia os outros 10.
    Ai aconteceu novamente uma coisa que acabou comigo e percebi que eu era apenas “mais um”! Havia uma colaboradora em licença maternidade, e logo retornaria, e teria de tirar suas férias, que poderiam ser marcadas para agosto sem problemas, mais ai o coordenador após receber uma ligação da mesma, ele simplesmente deu o mês de julho para ela e jogou minhas férias para agosto.
    Nesse meio tempo, eu fiquei doente, devido ao alto índice de estresse, e acarretou dores insuportáveis nas minhas pernas, dores que ainda tenho, e acabei ficando afastado por alguns dias e decidi me afastar das tarefas que fazia antes, sendo que fazia tudo isso e não recebia nenhuma gratificação por isso, sendo gratificação de operador de CFTV (11,77%) e nem de líder (12%), as gratificações que nos davam era a de entrar 20 minutos antes para dar uma diferencinha a mais no pagamento, ou seja, você continuava a trabalhar mais.
    Pronto! Fui julgado e condenado pelo coordenador e aquele que sempre fez e nunca deixou chegar nada nele, já não era mais importante e foi colocado de lado.
    Ai achei que teria o apoio da empresa para que eu pudesse me tratar e achar as causas do meu problema, errado!
    Ao invés disso, mesmo sabendo das minhas dores nas pernas, fazia questão de me colocar a mais tempo na frente de loja, enquanto os outros ficavam por duas horas, teve dia em que fiquei 3 horas! E quando os colaboradores que puxavam seu saco, trabalhavam de sandália por causa de unha com problema, enfim, desculpe-me a pessoa, mas não engulo a história do bolo todo o santo dia para o chefe.
    Pessoas faltavam, entregavam atestados toda vez, faziam e desfaziam o que queriam, e não aconteciam nada, já que este era comprado por bolinho de café da manhã!
    Finalizando, a prevenção da empresa é totalmente abandonada pelo gestor, este fica delegando tudo para os vigilantes e quando este não o faz é tratado como lixo; não tínhamos material de trabalho, as vezes tínhamos que trabalhar sem rádio ou revezando o mesmo para termos noção do que se passava em loja, visto que fiquei sem sapato da loja por um ano, e tem colega que nem crachá foi pedido, é só reparar, enfim, fazíamos o humanamente possível para sermos eficientes, mas não somos super.
    Hoje, minha esposa está com 28 semanas de gestação, continuo doente e com as pernas doendo, agora preciso desembolsar R$ 280,00 para fazer um exame para tentar identificar o meu problema, com essa situação em que me encontro, terei que tentar dar aulas com essa doença para que eu consiga suprir as despesas financeiras e tentar dar um pouco de tranquilidade para minha esposa dar à luz, porque doente, não vou conseguir trabalhar de vigilante com essas dores.
    Com tudo isso, perdi a saúde, o pré-natal de minha esposa ficou comprometido, o hospital em que ganharia o meu filho terá que ser mudado, o médico não poderá ser o que iniciou o pré-natal, este que nos ajudou muito, estava correndo para tentar financiar minha casa até o final do ano e dar um lar novo para minha família, não vou conseguir, a rescisão ficará para cobrir despesas.
    Dói muito saber que somos descartáveis a esse ponto e dói mais ainda saber que existam profissionais, se é que posso chamá-lo assim, que demiti por que não aceita que pessoas tenham vontade de mudar e melhorar o ambiente de trabalho para todos.
    Fiz o meu melhor e o reconhecimento, demissão com a frase: “reformulação na empresa”!
    Peço à Deus que recolha meus amigos e dê a eles muita saúde e força, porque tentei melhorar nosso ambiente e não consegui, e espero que um dia isso acabe e fique um bom lugar para se trabalhar.
    Não cuspo no prato que comi, gostei de trabalhar nesta empresa, e gostaria sinceramente que os gestores tivessem a consciência de que o funcionário é valoroso e merece respeito e condições financeiras e profissionais para executar seu trabalho com dignidade!
    Abraço para meus colegas de batalhas diárias e que Deus esteja com vocês de agora em diante, pois minha voz foi calada sumariamente por discordar dos gestores da prevenção que não nos merecem! Porque agora minha batalha é com minha saúde e não posso mais fazer nada.
    A luta vai continuar de algum jeito!
    Houveram mais coisas, mas não quero continuar, porque daria mais páginas e não seria um desabafo e sim uma história!
    Somos tratados como lixo e obrigados a ficar quietos para não sermos demitidos!
    Não serão citados nomes, mas quem trabalha na empresa e me conhece pessoalmente e profissionalmente saberão quem são!
    Desculpem o desabafo, abraço para meus amigos!

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